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Uzá e o Jocumeiro Categorias:
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Quem ainda não ouviu aquela pregação famosa em JOCUM sobre o pobre coitado do Uzá, em I Cronicas 13:5-11. Sei lá de quem ouvi primeiro, se do Gerson Ribeiro, se do Jim Stier. Não me lembro mais de quem, mas esta palavra sobre Uzá, me marcou.
A arca esteve na casa de Abinadabe, numa montanha em Quiriate-Jearim por vinte anos. Havia sido devolvida a Israel pelos filisteus depois de uma grande crise geral de ratos e hemorróidas (I Samuel 5 e 6), imagine! Eles só conseguiram ficar com a arca sequestrada por sete meses, e a devolveram aos israelitas em desespero, acompanhada do estranho “sacrifício”que o Deus deles pedia: hemorroidinhas e ratinhos de ouro. Daí ela foi parar em Bete-semes. O povo de lá recebeu-a com curiosidade e, ignorando completamente as leis levíticas e sacerdotais, abriram a arca santa para olhar dentro! Deus então feriu mais de cinqüenta mil homens de dentre eles, para se fazer entendido. Os Bete-semitas ao invés de se arrependerem e se preparem para a tarefa de se comportarem com a arca de maneira apropriada, não, fizeram foi tratar de se livrar dela rapidamente. Chamaram os homens de Quiriate-Jearim e deram o “presente de grego” para eles.

Já o pessoal de Quiriate era diferente. Abinadabe foi consagrado por eles para ser o guardador da arca, e tudo com certeza na mais perfeita conformidade com a palavra de Deus, porque ninguém teve hemorróida desesperadamente nem foi fulminado. A arca ficou na casa dele, tranqüila, por vinte anos…

Até que, aí que chegamos ao nosso ponto, a arca teve de ser retirada para ser levada de volta à Jerusalém. Davi estava ansioso por restaurar a arca do Senhor ao local onde ela pertencia. Mandou trazer a arca. O pessoal se põe a caminho. Mete a arca num carro de boi e pé na estrada. Só que um dos bois, lá pelas tantas dá um tropeção. A arca balança, balança, vai cair… A Bíblia não diz se havia alguém entre Uzá e a arca neste momento, mas parece que não. Uzá era o sujeito mais próximo. E Uzá também era filho de Abinadabe. Tinha com certeza crescido com a presença da arca sem sua casa. Vinte anos de convivência. A arca para ele era como uma peça de mobília ou um cachorrinho de estimação. E esta intimidade lhe foi fatal. Para impedir a arca de cair, Uzá toca na arca. Aparentemente não foi nem um toque desrespeitoso, profano, não. Parecia um toque necessário, até emergencial. Mas Deus não levou isto em consideração. Foi tocar e cair fulminado, imediatamente. O menininho que cresceu acostumado à presença da arca da aliança em sua própria casa, agora homem, cai fulminado na frente de todos por um raio de Deus.

O jocumeiro e o “cinismo espiritual”

Você já reparou como às vezes é difícil falar sério com um jocumeiro? Estamos sempre rindo e tudo o que fazemos até os atos mais espirituais fazemos com uma certa irreverência. Convivendo com muitas bases por aí pelo mundo afora, a gente vê que isto não é só uma característica nossa aqui do Brasil mas é geral, faz parte de nosso DNA jocumeiro. A gente vive um evangelho light, sem religiosidade, sem fru-frus. Nossa santidade não está em falar empostado ou despejar versículos a cada minuto, mas em nosso compromisso com os princípios de Deus.

Irreverência é fundamental, dizemos e saímos por aí pregando de prancha de surf debaixo do braço, cabelo punk verde, ou brincões indígenas que mais parecem uma prótese de um lóbulo extra na orelha. Aprendemos que ser genuínos e santos é ser santos sendo nós mesmos.

Esta revelação de que podemos ser nós mesmos, e mesmo assim ser amados por Deus é especial dentro do universo da JOCUM e muito restauradora pra alma de muitos… Deus não nos impõe nenhuma postura religiosa. Ele ama a mim como sou.

Até aqui tudo bem. O perigo começa quando, como Uzá, começamos a achar que dominamos o pedaço e que Deus dança a nossa música e não nós a dele. De irreverência santa passamos rapidamente ao cinismo espiritual. Nossa atitude sai de uma atitude de alegria e liberdade para o desrespeito, e o excesso de familiaridade. Não estou falando em excesso de intimidade, mas daquela familiaridade sem temor que às vezes temos com nossos familiares, que até nos impede de ter intimidade verdadeira. Este deboche constante tira de nossas almas toda a possibilidade de receber um impacto profundo de Deus.

Não quero entrar nos melindres de quando a irreverência “santa” e necessária começa a se transformar em cinismo. Talvez quando nós perdemos o óleo do Espírito em nosso dia a dia, e de genuínos verdadeiros, passamos a ser genuínos profissionais…

Passamos a julgar tanto a “religião” que deixamos de ser abençoados. Tudo passa a ser “religião” até o derramar da unção de Deus. Até os “meios da graça”, que são a busca diária, a oração, o jejum, começam a se tornar “religião” aos nossos olhos e passamos a estar acima disto como se não fôssemos mais mortais pecadores, dependentes d’Ele e exclusivamente d’Ele para sobreviver. Estamos acima da lei e portanto também acima da graça.

Sabe o que às vezes me parece um pouco esta atitude? Uma atitude de parlamentar com direito à imunidade. Porque sou jocumeiro, e porque sou líder sou como um deputado ou senador de Deus acima dos mecanismos espirituais, necessários apenas aos meros crentes-eleitores. Minha renúncia me fez melhor e porque sirvo ao bem “público” não estou na mesma posição que os outros que servem ao seu próprio bem…

Que mentira horrível! Todo este pensamento só nos leva à frieza, ao deserto à falta de Deus. Espero que eu não esteja falando da realidade na sua vida, mas só pintando um quadro pior do que é a verdade que você vive.

Até pouco tempo eu me “orgulhava” de não cair nas reuniões de cai-cai. Não era um orgulho explícito mas vinha meio disfarçado de humildade. Eu pensava: “Deus sabe que não preciso disto para amá-lo. Quanto já não sofri por ele sem ter nada disto! Eu o amo assim mesmo!” Até que fui me inquietando. Sabia que existia um mover de unção sobre o Brasil e começou a me parecer que esta unção tinha tudo a ver com o plano missionário que Deus tem para para nosso país. Começei a achar que eu estava perdendo alguma coisa. Como Uzá que perdeu a dimensão da santidade da arca, eu de alguma forma no meio do meu profissionalismo em ouvir a voz de Deus e me sentir parte ativa do seu plano para a terra, perdi a dimensão da Sua Verdade diante de mim. Me acostumei com a arca.
A prerrogativa sobre o mover tem que ser d’Ele e não minha. Ele tem que poder se mover emocionalmente, sobrenaturalmente ou não na minha vida e isto não diminui ou aumenta em nada minha capacidade de serví-lo. Mas eu tenho que dar a Ele este direito. Tenho que deixá-lo me derrubar e virar do avesso se Ele quiser! Todos estão recebendo as manifestações sobrenaturais mais diferentes e emocionais possíveis, se é parte do reino d’Ele eu preciso de receber e ministrar isto! Não vou claro, com isto fundar um ministério Ministério Bráulia Inês Ribeiro, a Ungida. Mas não quero ser tão acostumada com a presença de Deus que não lhe admito a sobre-naturalidade! Faça Senhor segundo a sua vontade!
Não seja você também como Uzá. Mantenha a arca de Deus no lugar que ela pertence.