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Pega essa Surfistinha! Categorias:
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Nem nos piores contos da Bruna Surfistinha seria possível relatar a história de três camaradas, munidos de equipamentos de vídeo e de foto, subindo as escadas de um lugar nojento, em busca de uma meretriz que já passa das seis décadas de vida. E para completar, ao fim de tudo, fazem uma vaquinha de dez reais pra pagar o “pseudo programa”.

Em pleno domingo, em meio a um evento para valorizar as “mulheres da vida” ( é verdade! Ainda existem pessoas que se preocupam com outras) somos apresentados a uma senhora, bem soltinha, assunteira e de idade. Logo surgiu a ideia de pegar o depoimento da vida dela. Mas naquela “muvuca”, o resultado não foi o esperado. Então, intrepidamente fomos encarar a realidade da casa de meretrizes.

No imaginário dos mais jovens, pode ser remetida a ideia de um lugar bonito, com garotas lindas dançando sem parar, tal como um cabaré francês, pessoas ricas e bem vestidas entrando com um monte de dinheiro. Não é! Pelo contrário, é nojento, uma luz rosa bem vagabunda, mulheres dançando ao som do batidão, tentando, e só tentando te instigar. Nada de cintas-ligas, corpetes e espartilhos. E gente com grana é o que não se vê, com dois reais você consegue pagar um programa.

Mas voltando ao conto proibido, subimos as escadas tentando ao máximo não pegar no corrimão, nem encostar nas escadas, todos sabiam quem era e onde estava a nossa “colega”. Chegamos à porta do quarto e gritamos, ela só colocou a cabeça no vão da porta e mandou esperar. Logo saiu um homem lá de dentro, todos olhavam os três garanhões (nós), esperando, e talvez alguns pensassem: “Meus Deus, que orgia vai acontecer!”.

Quando a porta se abriu, entramos logo e trancamos, olhamos ao redor, um quarto feio, minúsculo, com uma cama ao lado de um bidê e uma pia, com uma caneca cheia de escovas de dente e outra com um monte de camisinhas daquelas distribuídas pelo governo na época do carnaval. Mas nada foi mais impressionante do que ouvir seus conflitos e o sentimento: “Isto não é vida” e “eu não tenho saída”.

A região que agrega umas seis quadras do centro da cidade, tem mais de duas mil mulheres dia e noite se vendendo, não pode ser judicialmente fechada por que a sociedade contemporânea aceita, e a lei não pode confrontar a opinião pública.

É assim a vida, uns querem sair, outros querem entrar. A prostituição deixa umas ricas e famosas, mas também devasta muitas mulheres. O que torcíamos pra ser somente um conto é a mais dura realidade, Nua (literalmente e figuradamente) e crua.
Pega essa Surfistinha!

Publicado originalmente em: Tres16 Fotografia