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Pela primeira vez, brasileiros trabalharão em meio ao povo beduíno no Egito Categorias:
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Os Beja são reservados, tribais e estão excluídos no país. Uma família de brasileiros e outra de estrangeiros devem fortalecer relacionamentos com aulas de inglês, crochê e futebol.

Por Larissa Mazaloti

Pela lista da organização Portas Abertas o Egito está na 16ª posição entre os países com perseguição religiosa. O islamismo predomina no país, mas pelo menos 10% da população se declara cristã, é o conhecido grupo dos Cristãos Coptas (Igreja Ortodoxa Copta). Copta significa “Egípcio” no árabe clássico e eles tornaram-se muito conhecidos recentemente por conta da execução de 21 homens pelo Estado Islâmico.

Uma família de brasileiros – cujos nomes do casal serão preservados nesta matéria e substituídos por Yousef e Gamila – têm trabalhado no Egito desde 2017, quando elegeram o país para desenvolver bons relacionamentos naquela região do mundo. Segundo eles, para quem deseja aprender o idioma, no Egito está o árabe informal muito popular no Oriente Médio. Os dois, que saíram de partes diferente do Brasil, conheceram-se na Índia onde realizavam atividades, ele em vilarejos e ela de pesquisa e ali mesmo se casaram.

A rotina e o idioma

O filho do casal nasceu no Cairo, onde vivem agora. Segundo Gamila, que engravidou logo que chegaram no Egito, conta que estudou árabe e organizou sua vida como dona de casa, esposa e mãe, desenvolvendo relacionamentos com a comunidade de vizinhos egípcios.

“Como mulher não tenho muita oportunidade de fazer relacionamento e praticar o árabe, por causa da cultura”, relata, mas revela que o fato de ter um filho abre portas que seriam impensáveis para uma mulher, e estrangeira. “Nosso filho não só aproxima pessoas para relacionamento, como trouxe segurança e respeito para nós na vizinhança”, conta a mãe do pequeno brasileiro-egípcio.

Yousef investe seu tempo trabalhando com esportes e visita refugiados e estrangeiros presos no Egito. “Os detentos não recebem alimento, o que comem é fornecido por cristãos nas visitas que fazemos”, explica. Ele conta que a formação do pensamento islâmico acontece no Egito através da universidade e dos mais influentes muçulmanos que vivem no país.

Assim como a esposa Gamila, Yousef se dedica a aprender árabe, mas revela que esta é uma dificuldade para eles. “O idioma é complicado, difícil aprender só na informalidade da rua. O ideal seria com um professor, por meio de escola mesmo”, relata. Há um tempo que o casal precisou deixar as aulas por causa da falta de recursos financeiros. Apesar disso, Yousef garante que já consegue se comunicar que tem feito o que está ao seu alcance para servir o povo egípcio.

O sonho de chegar aos beduínos

É um consenso do casal o desejo de, não só conhecer, como viver entre os Beja, um povo beduíno que está no Sudão, Eritréia e no Sul do Egito. Em termos de cristianismo, os Bejas estão entre povos não alcançados, não havendo nenhum registro oficial de trabalho entre eles.

Foi em fevereiro deste ano, que após sonhar com este encontro, Yousef, Gamila e o filho conheceram a comunidade que tem um sistema de vida tribal e surpreendentemente encontraram outra família, a única estrangeira, naquele local. “O primeiro contato foi surpreendente, melhor do que esperávamos”, comemora Yousef que ressalta a cultura mais reservada dos beduínos.

Os Bejas vivem no Sul do Egito, e é para lá que o casal de brasileiros deve se mudar até o mês de agosto. Lá eles se envolverão com o trabalho já realizado de aulas de inglês para crianças e adolescentes, além do projeto de Yousef de abrir uma escola de futebol em que vão compartilhar princípios e valores aos Bejas. Gamila pretende servir em frentes de trabalho já estabelecidas, como visitas ao hospital da cidade e aula de crochê para mulheres, sempre com foco em criar e fortalecer laços de amizade.