Menu

O que de fato é reação para nós? Categorias:
Artigos

Quando fui convidada para escrever sobre Reação, várias idéias passearam pela minha mente. Pensei em resgatar o sentido Físico da palavra que se sustenta pela premissa de que “a toda ação corresponde uma reação”. Na verdade, essa é a 3ª lei de Newton – “Lei da Ação e Reação“, que muitos leitores devem estar tendo que estudar para as provas do ENEM ou do quase extinto vestibular. Issac Newton afirmou que, para toda força aplicada, existe outra de mesmo módulo, mesma direção e sentido oposto. Mas, desisti desse caminho, porque provoca pouca humanidade na gente, e também, porque, como não sou física e nem tenho curiosidade intelectual nessa área, não iria mesmo conseguir sustentar meu raciocínio no momento em que mais precisaria de argumentos. Resumindo, seria um desastre e você terminaria não lendo nada mesmo.

Reações…

Mas, enfim, lembrei de uma menina que, atualmente, já é uma senhora e que ficou famosa quando era ainda uma menina de 09 anos de idade. O nome dela é Kim Phuc e seu nome significa “Alegria Dourada”. No dia 08 de Junho de 1972, ela sofreu a ação de um ato que nós poderíamos considerar hediondo, algo “tipo assim”sem noção. Dois aviões de guerra americanos juntamente com o apoio dos vietcongs atacaram a vila de Trang Bang, no sul do Vietnã. Essa vila estava localizada na província de Tei Ling, num trajeto que formava um corredor entre Saigon e o Camboja. Mas, definitivamente, não era uma área militar e sim uma vila de civis, onde famílias de camponeses viviam. O bombardeio não foi de mísseis como costumamos ler nos livros de História, ou ver nos filmes de guerra. Na verdade, durante o ataque, foi usada uma arma diferente, chamada Napalm – um tipo de gasolina gelatinosa incendiária, oriunda de uma palmeira de mesmo nome, que corrói como ácido se tiver contato aderente com a pele, que queima músculos e funde os ossos, além de liberar monóxido de carbono, fazendo vítimas por asfixia. Aquela menina estava num templo budista, juntamente com outras crianças e adultos tentando salvar a própria vida, sem nenhuma intenção de prejudicar nem o mundo e nem ninguém. Na verdade, a menina nem sabia ao certo de quem estava se escondendo e do que precisava se salvar. Mas, a Napalm atingiu a Kim, queimou e destruiu sua aldeia, e pior, destruiu muito de sua pele e atingiu alguns de seus órgãos internos, deixando-os como se tivessem sido cozidos. Provavelmente, você e eu não conseguiríamos capturar o desespero dessa menina correndo queimada e nua pela estrada debaixo de uma chuva de Napalm e tentando escapar da morte, porque, do horror, ela não conseguiu escapar.

Reações …

O fotojornalista vietnamita correspondente de guerra Nick Ut e o jornalista inglês Chris Wain, além de registrar aquela imagem única de dor, horror e desespero, também ajudaram a menina, que estava nua e queimada, com sua pele escurecida pelo Napalm. Suas roupas foram completamente corroídas pela terrível arma americana, que ainda hoje é usada em ataques pelo mundo a fora. A reação inicial da Kim foi dor e não pouca, um estrago imenso em seu corpo, queimaduras de 3º grau em suas costas e numa maior intensidade no braço esquerdo e isso era o registro externo apenas. Ao visitar a menina no hospital, os jornalistas ouviram o prognóstico médico por meio de uma enfermeira: “Ela vai morrer, talvez amanhã, talvez depois de amanhã, mas ela irá morrer”. A reação dos líderes do ataque foi culpa e vergonha, e a reação dos médicos e enfermeiros do primeiro hospital que recebeu a Kim foi a indiferença. Ela era apenas mais uma vítima de guerra. A reação dos jornalistas foi pró-ativa e eles conseguiram uma transferência dela para um hospital em Saigon especializado em cirurgias plásticas em crianças, que tinha sido fundado por um médico americano, que foi pioneiro no desenvolvimento de técnicas cirúrgicas para tratar as vítimas de Hiroshima.

Reações …

A menina ficou hospitalizada por 1 ano e 2 meses e foi submetida a 17 cirurgias. Seu corpo precisou reagir a 17 cirurgias plásticas, muitas marcas ficaram e cicatrizes despontaram ao longo de sua epiderme. Mas, a pergunta que não se cala é: como seus pensamentos e emoções iriam reagir diante de toda aquela maldade a qual Kim foi submetida, provavelmente sem entender muito bem sequer o por quê?

Reações …

A “Alegria Dourada” voltou para casa, mas para voltar a ter uma vida que fosse equivalente ao significado de seu nome, ela ainda precisaria trilhar um longo caminho. Kim aprendeu a esconder as marcas do horror sofrido. Quando a adolescência chegou, provavelmente a fase de vida que a maioria de vocês leitores está vivenciando, Kim Phuc era apenas uma adolescente anônima que usava roupas de mangas compridas para esconder as cicatrizes que ainda estavam lá sinalizando o que ela tinha vivido quando ainda era uma menina. E então, além de esconder as cicatrizes do corpo, ela ainda lutava as guerras interiores com suas emoções, que afirmavam que suas cicatrizes eram tão feias que nenhum homem seria capaz de amá-la e sequer querer casar com ela. E pensar que eu, quando era adolescente, tinha horror das espinhas que surgiram no meu rosto e desapareciam na semana seguinte sem deixar nenhuma marca para eu ao menos me lembrar de onde estavam. Nós humanos temos a capacidade de manter vivas as situações que vivemos de tal maneira que, mesmo depois de muitos e muitos anos, as nossas ações e reações revelam as expressões da presença e do lugar que aquelas situações ainda ocupam em nossas vidas. E isso é mais forte que as cicatrizes acumuladas em nosso corpo.

Reações …

Em 1980, quando já havia se passado 05 anos do final da guerra do Vietnã, em que os EUA tinham sido derrotados, o mundo todo reagiu perguntando: por onde andará a menina da foto mais famosa da guerra? Afinal, a foto havia se tornado um tipo de herança deixada pelos 16 anos de guerra. Era pro mundo não esquecer o horror e, talvez, como reação secundária, não se esquecer daquela menina. Ao saber do burburinho internacional, os oficiais vietnamitas tiraram Kim da faculdade, que, na época, estava cursando Medicina em Saigon. Essa foi mais uma de suas reações. Diante do cuidado recebido pelos médicos e enfermeiras do hospital onde ela fora submetida às 17 cirurgias plásticas, um anseio foi nutrido em seu coração: “Quero ser médica, quero ajudar outros, assim como fui ajudada!” Mas, que custo-benefício havia para os oficiais vietnamitas em permitir que uma jovem que sofrera os traumas da guerra realizasse um anseio que se tornou um projeto de vida? Ao tirarem Kim da universidade, eles a trouxeram para sua província, submetendo-a trabalhar como secretária do Governo, para mantê-la sob controle, caso a mídia internacional começasse a especular sobre onde ela estava e em que condições estava vivendo. Mas, da mesma maneira que Kim fugiu aos 09 anos de idade para salvar sua vida do fogo produzido pelo Napalm, ela voltou a fugir para salvar sua vida do fogo da repressão. Ela retornou para Saigon a fim de completar os estudos de Medicina, os quais tinham se tornado um ideal de vida para ela. Você pode chamar isso de Reação. Entretanto, o Governo de seu país contra-reagiu também. E a retaliação foi aguda, de forma que, todos os registros acadêmicos da Kim foram destruídos, e, simplesmente, ela não existia mais como estudante. Mesmo sob a vigilância do Governo, Kim conseguia fugir de noite para ter aulas de inglês em Saigon. Seus pais tinham um restaurante e freqüentavam o mesmo templo onde se refugiaram durante os ataques para orar. Os jornalistas sempre a procuravam para que contasse a sua história ao mundo. Mas, ela não dizia nada para proteger sua família e porque o Governo poderia destruir mais que os seus registros acadêmicos.

Reações …

A exposição pública sem poder dizer de fato o que havia ocorrido lhe custou um saldo emocional muito grande. Kim desenvolveu um quadro de depressão … Mais reações. A única coisa que tinha um ganho real para ela em torno de todo a espetacularização dos jornalistas foi a oportunidade que ela teve de se tornar freqüentadora assídua da biblioteca de Saigon e uma leitora voraz. E, nessa mesma biblioteca de Saigon, foi que, pela primeira vez, Kim Phuc leu o Novo Testamento. Por conta da descrição de Jesus ser completamente diferente daquilo que ela havia aprendido quando era criança a partir da tradição Cao Daí – uma mistura de religiões que considerava vital cultuar e consultar os ancestrais já mortos – a jovem começou a questionar sua fé de infância, porque o Cao Daí parecia sem poder algum para curá-la da depressão.

Reações …

Muitas vezes, o marido de sua irmã, um cristão comprometido com Deus, a convidava para ir à igreja e ela, por já ter lido o Novo Testamento, estava muito inclinada e atraída pela fé cristã, mas nutria resistência por causa da religião familiar, até que mais uma reação aconteceu… Após muitos convites negados, num Domingo pela manhã, decidida a ir à igreja, Kim fez sua primeira oração e fez um pedido simples, mas muito significativo para Jesus: “Eu preciso de uma amiga com quem possa conversar. Se eu vir uma garota sentada sozinha na igreja ela será minha amiga”. Interessante esse pedido não?!

De fato, ela chegou à igreja antes de sua irmã e seu cunhado e, quando ele passou pela porta, ela viu uma moça sentada sozinha. Kim se aproximou, sentou-se e se apresentou, e uma aproximação inicial deu lugar ao nascimento da amizade pedida na primeira oração. Talvez num momento tão individualista que o mundo está vivendo, a gente não valorize como deve ser uma oração como essa. Mas, alguém que já sofreu de depressão sabe que um dos pesos que ela deixa sobre os ombros é um profundo senso de solidão. Talvez por isso, depois de anos lutando com uma angústia profunda, a Kim tenha conseguido se alegrar com Deus e com uma amiga.

Deus também age e reage quando dirigimos a nossa voz a Ele.

Reações…

A “Alegria Dourada” recebeu Jesus em seu coração como Senhor e Salvador pessoal e fez a seguinte afirmação: “Foi o fogo da bomba de Napalm que queimou meu corpo, foi a habilidade dos médicos que consertou minha pele, mas foi preciso o poder de Deus para curar o meu coração”.

De fato, reagir é deixar Deus agir.

No ano de 1986, o Governo vietnamita finalmente autorizou Kim a terminar os estudos de Medicina numa comunidade comunista em Cuba. Ela morava no 24º andar de um prédio que não tinha instalação de água e nem elevador, e isso era uma complicação, porque, diariamente, Kim ainda precisava lavar e aplicar medicação em suas queimaduras. Um colega vietnamita chamado Tuan se ofereceu para carregar baldes com água até o apartamento de Kim e ele começou a sentir-se tocado pela amabilidade dela.

Reações…

O rapaz era interessante em todos os aspectos… Fumava, bebia excessivamente e, ainda por cima, era um idealista comunista, ou seja, Kim era educada com ele, mas, ao mesmo tempo, era evasiva diante dos elogios.

Reações…

Kim testemunhava sobre Jesus para Tuan, mas suas barreiras idealistas e intelectuais para a fé pareciam intransponíveis, como a defesa do time cubano de vôlei. Entretanto, precisamos considerar o amor como um elemento que também provoca reações. Por causa disso, Tuan parou de beber e fumar e pediu a “Alegria Dourada” em casamento, mas, inicialmente e por várias vezes, ela reagiu fazendo afirmações em torno de suas queimaduras e dos efeitos em seus órgãos e que, provavelmente, não poderia ter filhos em função disso. Mas, Tuan foi insistente e continuou reagindo às escusas de Kim. A jovem que quando adolescente aprendera a acreditar que nenhum homem a amaria e desejaria se casar com ela, agora vivia um impasse. Kim passou a vida inteira reagindo, mas, agora, precisava aprender, de uma vez por todas, que as pessoas também reagem a nós e nem sempre de maneira negativa. Ela havia se preparado para que os homens lhe tratassem com repulsa, mas agora, o que fazer diante de um rapaz legitimamente interessado por ela?

Reações…

Tuan esperou o tempo necessário para Kim acreditar em seu amor e reais intenções de formar uma família com ela. Então, após 06 anos de namoro, o ano de 1992 se tornou um marco para esses sobreviventes – eles se casaram. No retorno da lua-de-mel, o avião parou para abastecer em Newfoundland, uma cidade do Canadá, e enquanto o avião descia, Kim abaixou sua cabeça e fechou os olhos. Ao ver essa atitude, seu jovem esposo lhe perguntou o que estava fazendo, e ela lhe respondeu: “Nós temos desejado sair de Cuba e deixar de vez qualquer vínculo com o partido comunista, mas temos medo por conta das retaliações que nossas famílias podem sofrer, ou até nós mesmos. Então, eu estou orando e pedindo a Deus que, se Ele abrir o caminho, nós poderemos ficar e viver no Canadá”. O marido ficou muito apreensivo com a oração subversiva da jovem esposa, mas ela estava certa de que Deus havia aberto uma porta para eles ali e disse ao marido: “Se você me ama, siga-me, porque eu sigo a Deus”. E quando os passageiros entraram no aeroporto para esperar o abastecimento, Kim não tinha idéia de como fugir, ou de alguém a quem pudesse procurar. Várias coisas passaram por sua mente: “Será que deveria me esconder no banheiro e quando derem por minha falta já seria tarde?” Não, pensou ela. A polícia secreta após a contagem daria falta dela e logo sairiam à sua procura. Então, mais uma vez ela teve a melhor reação, mesmo em meio ao desespero – Kim fechou os olhos e orou: “Deus como podemos ficar aqui? Não queremos mais voltar para Cuba e nem para o Vietnã.” Quando Kim abriu os olhos, novamente, sua visão foi direcionada para uma pequena sala no corredor onde havia uma porta entreaberta e percebeu um pequeno grupo de pessoas dentro dela, e imediatamente, reconheceu no meio do grupo, algumas pessoas que pertenciam à sua comunidade em Cuba. A “Alegria Dourada” não resistiu, se aproximou, colocou a cabeça para dentro da sala e perguntou em espanhol para seus conhecidos: “O que vocês estão fazendo aqui?” E eles imediatamente responderam: “Nós queremos ficar aqui”. Kim mais que imediatamente devolveu uma nova pergunta: “Eu e meu esposo também queremos ficar. Como podemos ficar?” E responderam-lhe a coisa mais simples do mundo: “Você apenas entrega seu passaporte para o oficial postado logo na frente da sala e pronto”. Kim chamou seu esposo, que a aguardava no escritório de imigração, e ambos entregaram seus passaportes ao oficial e disseram: “Queremos ficar no Canadá”. “Sim, ok”, foi a resposta que receberam do oficial. Kim ficou perplexa com a facilidade com que tudo sucedeu e não resistiu à expressão: “Louvado seja Deus!

Reações…

Enfim, liberdade! O casal se estabeleceu numa comunidade de imigrantes vietnamitas em Toronto. Penso que a história poderia já parar por aqui não é verdade? Kim sobreviveu ao horror da guerra, teve seu corpo e seu coração restaurados, foi escolhida para ser a amada de um homem e agora estavam livres da opressão do sistema comunista.

Mas, espere aí, tem mais, não pára de ler não…

O corpo da Kim reagiu mais uma vez e o milagre da gestação estava acontecendo no corpo de uma mulher que ouviu dos médicos que seria muito improvável ela poder ser mãe, porque as paredes de seu colo uterino haviam cozinhado com a intensidade do calor que ela enfrentou causado pelo fogo da Napalm. Kim e Tuan tiveram um menino lindo chamado Thomas. Corpos conseguem reagir, mesmo quando submetidos às mais terríveis maldades. E essa reação de Kim agora tinha um nome: Thomas.

Contudo, a reação mais forte que Kim precisava vivenciar depois de todos os anos que se seguiram à Guerra do Vietnã ainda estava por acontecer. No ano de 1996, a nossa “Alegria Dourada” concordou em falar numa cerimônia do Dia dos Veteranos de Guerra que ocorreu na capital americana – Washington D.C., na alameda onde ficava o monumento aos soldados mortos no Vietnã. Como você reagiria ao ser convidado para falar na casa dos responsáveis pelo seu horror? Diante daqueles milhares de homens uniformizados, quais seriam as lembranças ativadas em sua memória? É bom lembrar que o corpo da Kim foi bastante atingido pela Napalm, mas, a memória, de longo e curto prazo, estava perfeitamente intacta. Ela não tinha esquecido nada daquele dia 08 de Junho de 1972. Mas, como ela iria reagir?

Continue comigo. Mais entendimento sobre reação ainda nos espera.

Kim Phuc iniciou seu discurso da seguinte maneira: “Como vocês sabem, eu sou a garota que estava correndo para escapar do fogo da Napalm. Eu não quero falar sobre a Guerra, porque não posso mudar a História. Só quero que vocês se lembrem da tragédia da Guerra, para que façam coisas para que as pessoas parem de brigar e matar ao redor do mundo.” O tom de sua voz se alterou um pouco, baixando a intensidade inicial, mas ela continuou: “Eu tenho sofrido muito, tanto de uma dor física quanto emocional. Algumas vezes, pensei que não poderia mais viver, mas Deus salvou minha vida e me deu fé e esperança.” E agora, diante dos olhos e dos ouvidos dos possíveis causadores de sua dor, ela expôs o que nutriu em seu coração ao longo dos anos: “Mesmo que eu pudesse falar face a face com o piloto que soltou a bomba, poderia dizer para ele que não podemos mudar a História, mas deveríamos tentar fazer coisas boas juntos, pelo presente e pelo futuro, para promover a paz.” Você consegue capturar o quanto de graça e perdão existem nestas palavras? Seu discurso foi de fato muito breve, mas comovente e restaurador para quem esteve envolvido naqueles tempos de horror. Foi como colocar vítima e criminoso, um diante do outro, para um acordo de paz.

Reações …

Aquele discurso também provocou a reação de em uma pessoa específica presente no ato comemorativo. Um homem rascunhou uma nota e entregou a um soldado para que chegasse até Kim Phuc. No papel estava escrito: “Eu sou o homem que você está procurando”. Kim concordou em vê-lo longe da multidão. Então, os oficiais trouxeram o homem até o carro onde estava Kim. Diminuindo o fervo dos repórteres em volta do carro, a jovem saiu e olhou diretamente nos olhos do homem e levantou seus braços – os mesmos braços que o mundo todo viu na foto e que ela levantara quando corria pela rua em agonia com a pele queimando. Kim levantou os braços e abraçou o homem que liderou o ataque em sua vila. Ambos choraram juntos, abraçados por tempo considerável. Naquele dia, a foto da garotinha vietnamita fugindo das chamas do Napalm foi substituída na consciência dos americanos por outra imagem. Agora, uma jovem mãe abraçava um ex-combatente de guerra, tendo como cenário o memorial em homenagem aos soldados mortos no Vietnã. As palavras perdoadoras de Kim Phuc ajudaram a curar a consciência e as memórias de milhares de veteranos presentes e também as feridas daquela nação.

Reações…

Perdoe-me, eu estou muito arrependido”, foi o que Kim ouviu do homem, e “tudo bem, eu o perdôo” foi o que homem ouviu como resposta da “Alegria Dourada”. O homem que recebeu o perdão de Kim Phuc naquele ano de 1996 de maneira oficial já havia sido perdoado no coração dela, senão sua reação teria sido outra. E aquele homem só se mostrou arrependido, porque a Pessoa que provoca nos homens as melhores reações também tinha agido na vida dele. O homem era John Plummer, um oficial que reivindicou para si a autoria do ataque e que, agora, era um reverendo protestante. O abraço que poderia ter acontecido entre inimigos se tornou um abraço entre irmãos.

Reações…

Cerca de 58 mil soldados americanos morreram no Vietnã, mas Kim Phuc estava ali viva, de pé, refletindo o poder da ressurreição de Cristo sobre sua vida através da graça, do perdão e do amor que estendeu àquele homem. Na verdade, a todos aqueles homens que estiveram lá, na Guerra, no Vietnã.

Reações…

Kim Phuc escolheu um caminho inédito, que, normalmente, só gente nobre faz. A que caminhos nossas reações vão nos levar? Vamos ser comuns? Reagir como todo mundo reage? Kim poderia reagir a tudo que vivenciou com um rancor profundo, capaz de adoecer mais sua alma que o fogo que deteriorou seu corpo, ou poderia nutrir uma revolta hostil em seu coração, que se tornaria mais incendiária que a bomba de Napalm a qual a acertou em cheio. Mas, ela reagiu de outra maneira. Atualmente, Kim tem em torno de 46 anos e vive com seu esposo Tuan e seus 2 filhos em Toronto, no Canadá. Ela também se tornou Embaixatriz da Boa Vontade pela UNESCO e preside a Fundação Kim Phuc que ajuda crianças vítimas de guerras ao redor do mundo.

Reações…

E isso vai além do clichê em forma de adágio popular que nos ensina que, se o mundo nos der limões podemos fazer uma limonada com eles. A História de Kim Phuc tem a ver com o coração, tem a ver com os valores que lideram nosso coração quando uma escolha precisa ser feita, quando uma decisão necessita ser tomada, quando uma reação se constrói em torno da ação de alguém em relação a nós.

Todos os dias, eu e você tomamos decisões, fazemos escolhas e temos reações que nos ajudam a construir um ou outro tipo de mundo.

Então, que as nossas reações reflitam quem rege de fato nossas vidas!

Créditos da Foto: NICK UT